terça-feira, 25 de novembro de 2008

Conceito / Concepção

Aluno: Camilo Simão de Lima
Conceito / Concepção: Derivado do verbo latino concipere , “conceber”, veio o ato de conceber, concepciones, “concepção”. O “resultado da concepção”, conceptus, pode tanto ser “conceito” quanto “concebido” (daí vem o dogma de a Virgem Maria ter sido “concebida sem pecado”: não houve transmissão do pecado original quando sua mãe engravidou). O con no início dessas palavras significa “junto” em latim, porque originariamente a palavra se referia apenas ao ato sexual para fins de procriação. A idéia de “concepção abstrata” apareceu só no século XVI.
No projeto arquitetônico, o Prof. Dr. Carlos Antônio Leite Brandão posiciona a questão do conceito no âmbito da linguagem e compreensão. O autor afirma que o desenvolvimento do conceito, sobretudo na elaboração do projeto, é prejudicado pela freqüência com que ele antecede e se conclui antes ou fora da representação e produção do espaço e acrescenta que “o conceito não é apenas uma elaboração mental prévia, destinada a ser substituída pelo projeto no qual ela seria totalmente absorvida, mas o medium histórico da linguagem através da qual nos constituímos e compreendemos o mundo em que vivemos.” É através do conceito que o arquiteto e quem habita a obra são capazes de dialogar.
O conceito precede a exposição de um projeto arquitetônico e sua função varia de acordo com a concepção do arquiteto. Contudo, a partir do momento que é visto como instrumento de acesso a uma imagem mental ou de descrição de uma realidade que lhe é exterior, o conceito desaparece e perde sua importância tão logo tais imagens e realidades se evidenciam. É a partir disso que Heidegger, em A Origem da Obra de Arte, distingue objeto artístico de objeto instrumental, pois o objeto artístico consegue fazer desaparecer em si a matéria de que é feito.
A autora Diana Agrest, no seu texto À Margem da Arquitetura: corpo, lógica e sexo, apresenta o edifício concebido como um análogo formal do corpo masculino, sendo necessário sua concepção e nascimento, aparecendo o corpo do próprio arquiteto no papel de mãe. Quando o arquiteto dá a luz ao edifício, ele se torna mãe do edifício. Antes do arquiteto trazê-lo ao mundo, ele deve sonhar com a sua concepção, refletir sobre ele e imaginá-lo de diversas maneiras durante sete a nove meses, assim como uma mulher carrega um filho no ventre.

Referências:
AGREST, Diana. Uma Nova Agenda Para Arquitetura. À Margem da Arquitetura: corpo, lógica e sexo. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Interpretar Arquitetura, nº1. Linguagem e Arqitetura: O Problema do Conceito. Belo Horizonte. 2000.
CONCEPÇÃO por Léa Marina Silva

Concepção, s. f. Ato de ser concebido ou gerado; geração; faculdade de perceber; conhecimento; ato de fazer idéia; fantasia.

Conceber, v. t. Sentir em si o germe de; gerar; formar no espírito ou no coração; meditar; entender; compreender; considerar; t.-pred. figurar; imaginar; int. ser fecundada.

A palavra em questão, e suas variantes, são determinantes para conceituar a atuação do profissional arquiteto, pois agregam uma série de significados, muitos deles interligados, de modo a descrever o processo de trabalho desse profissional diante da tarefa de constituir um espaço.
Segundo o Prof. Dr. Carlos Antônio Leite Brandão, “os conceitos, como aqueles que elaboramos durante a produção de um projeto, não surgem do nada, mas da reflexão sobre a nossa própria experiência dos espaços e daquilo que nos fornece a tradição que lhes concerne”. Ou seja, a concepção arquitetônica parte da percepção, do entendimento, da memória do arquiteto a respeito das experiências vividas, que através deles é capaz do ato de fazer idéia, formar no espírito ou no coração, do ato de conceber.
Ao comparar o arquiteto ao agricultor, Brandão afirma que “a atividade mental de conceber é metáfora da atividade agrícola de colher algo que é oferecido pelo mundo e apropriado pelo espírito ou pela nossa vida prática”, de maneira a produzir um conceito onde “reúne-se nossa experiência do mundo, elabora-se aquilo que se destila desta experiência como sua essência. Nesse sentido, o conceito é (...) uma compreensão daquilo que efetivamente vivemos, uma captura da história de nossa vida pelo espírito e pela linguagem, uma interpretação do passado com vistas a sua articulação no presente (...). Daí envolver-se na tarefa da concepção a colheita e o recolhimento, ou seja, a capacidade de fecundar novos frutos a partir daquilo que colhemos no campo do mundo. Aquele que concebe, portanto, é aquele que colhe, seja o grão ou seja a experiência vivida, para serem usados como alimentos ou para relançá-los à terra e gerar novos frutos a serem entregues ao mundo”. Portanto, pode-se dizer que a todo momento estamos produzindo experiências a serem assimiladas pelos outros da mesma forma que usufruímos da experiência alheia para constituirmos nossa “essência”.
Outra forma de entender essa relação é a de que o arquiteto é fecundado pelas suas experiências de mundo e por suas interpretações a respeito das coisas, sendo sua concepção arquitetônica fruto dessa fecundação. Nesse sentido, a teórica e professora de arquitetura Diana I. Agrest, no texto “À margem da arquitetura: corpo, lógica e sexo” coloca o indivíduo arquiteto no papel de mãe a partir do momento que compara o edifício a um homem vivo, cuja concepção e nascimento está necessariamente relacionado a outro corpo, no caso, ao do arquiteto que o concebeu.


Referências:

AGREST, Diana. Uma Nova Agenda Para Arquitetura. À Margem da Arquitetura: corpo, lógica e sexo. São Paulo: Cosac Naify, 2008.BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Interpretar Arquitetura, nº1. Linguagem e Arquitetura: O Problema do Conceito. Belo Horizonte. 2000.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Gamma Editorial.

sábado, 15 de novembro de 2008

Glossário de PA1 Bruno Massara

Na disciplina de Projeto de Arquitetura 1 o Prof. : Bruno Massara desenvolve exercícios que abordam o ambiente e o cotidiano e espaço e relações sociais. Um dos objetivos da disciplina é iniciar o aluno em um processo crítico de análise, concepção e produção arquitetônica, partindo da discussão sobre o habitar na cidade contemporânea.
Estão programados nas atividades propostas alguns procedimentos tais como diagramas; abordagens sobre o território: mapeamento (cartografias). Estes procesimentos/ conceitos têm um papel significativo na arquitetura contemporânea e não devem ser utilizados acriticamente. O glossário permite que sejam verificados ou designados ou ainda ressemantizados. É um recurso pedagógico de apoio as atividades programadas tais como as possibilidades de transposição dos limites do prisma (proposto como habitação de dimensões restritas e intervenções com planos e outras superfícies limitadas).
Neste processo solicitam-se abordagens críticas das relações de ocupação e uso dos espaços a partir do agenciamento dos conceitos de TEMPO, AÇÃO, LUGAR e PERSONAGENS. Os alunos deverão investigar propostas que avancem sobre os estereótipos atuais ou “modelos de mercado”. As ambiências propostas deverão contemplar uma análise adequada da interferência da LUZ, TEMPERATURA, TEXTURA, capacidade de ADAPTAÇÃO, relações com IMAGENS. Estes ítens estão explicados no Glossário anexo. Assim também se sucede com o exercício do tópico espaço e relações sociais.
Glossário

[ territorialidades ]
áreas que definem atividades e ações dos usuários pelo seu caráter e ambiência

[ barreiras ]
elementos que encerram, limites, de caráter físico, intransponíveis
[ membranas ]
elementos etéreos, que sugerem divisões espaciais, sem limites físicos rígidos
[ contaminações ]
áreas de contágio entre ações diferenciadas mas complementares, interferência de usos espaciais seja pela propagação do ruído, da apropriação dos lugares, pela percepção visual
[ atratores ]
elementos ou áreas de agregação, espaços de centralidade, zonas de ajuntamento

[ Diagramas ]
Diagramas são ferramentas visuais usadas para compreender diversos tipos de informações. O seu uso na arquitetura vem buscando ampliar o leque de possibilidades de representação para situações que demandam de um alto grau de articulações. Uma das características fundamentais destes métodos comunicacionais é seu forte poder de síntese, que permitem a produção de imagens esquemáticas contendo mais informações de que em muitas linhas escritas. Esta técnica envolve uma convergência entre idéias e formas, conteúdos e estrutura, através da inserção de elementos sugestivos. Mas não é uma imagem aleatória.
O diagrama envolve o uso e aplicação de aspectos como tempo, ação, personagens, lugar, eventos, duração e trajetória combinados entre si de forma a permitir não apenas o entendimento de uma situação específica, mas das causas que levaram a ela. Embora o diagrama explique as relações em um objeto arquitetônico, ele não necessariamente reproduz sua forma física, ele faz a representação de forma diferente, tentando revelar estruturas de organização. Ou seja, ele é a representação de algo que não é a coisa em si. O diagrama não é apenas uma explicação, como algo que vem depois, ele atua com algo intermediário, tocando no processo de geração do espaço. São relações de força, que indicam momentos de constância, de ações que se parecem, de locais que se interagem em termos de usos. É um tipo de representação que nunca está liberada de valores ou significados, mas sempre relaciona espaços com as atividades que neles ocorrem, com a duração e a intensidade destas atividades, com quais objetos são por elas envolvidos dentro de cada espaço, de forma que partindo de qualquer um dos itens envolvidos, possa se apreender sua forma de articulação com os demais. O diagrama é uma forma de representação que é ao mesmo tempo explicativa e analítica, que mostra e também relaciona os diversos fatores envolvidos num dado processo. Ao contrário das formas tradicionais de representação, o diagrama funciona como um mediador entre o objeto palpável e as ações e relações que nele se desenvolvem.

[ Abstrato/Abstração ]
Que designa uma qualidade separada do objeto a que pertence; o que se considera existente só no domínio das idéias e sem base material; diz-se da manifestação artística de conteúdo e forma alheios a qualquer representação figurativa, que é característica de diferentes épocas, culturas, ou correntes estéticas, e transcende as aparências exteriores da realidade.

[ Engenhosidade ]
Refere-se à investigação conceitual que antecede a execução do diagrama, ou seja, a constante reflexão sobre os objetivos do exercício. Compreende a maneira de explorar a mídia papel (impressões, desenhos, colagens, montagens, transparências, sobreposições, dobras, materiais não convencionais) em sua forma física. Envolve a diagramação das informações na mídia escolhida e a apropriação gráfica do espaço disponível. Devem estar claras as relações entre as estratégias utilizadas e os resultados obtidos, de forma que seja evidente o encaminhamento de leitura do diagrama.

[ Legibilidade ]
Clareza na forma de veicular as informações. Avaliação da capacidade de tornar compreensível a leitura do diagrama, não significando uma leitura rápida, nem imediata, nem literal.
[ Eficiência ]
Coerência entre as intenções da investigação conceitual e a dosagem gráfica utilizada para a sua comunicação. Envolve a habilidade em calibrar os elementos escolhidos (cores, gráficos, imagens, ícones, legendas, letras, palavras) para compor o diagrama de tal forma que a execução corresponda a uma qualidade sem excessos nem deficiências de informações.

[ Luz ]
Buscar explorar a luz natural como um elemento imprescindível na constituição de uma atmosfera agradável de ocupação humana seja no cotidiano ou em ocasiões específicas. Explorar o conforto e a qualidade visual nos espaços propostos, abordando também as dimensões sociais, estéticas, ecológicas e funcionais propiciadas pela luz natural ou artificial. Refletir sobre as particularidades inerentes à luz, envolvendo aspectos simbólicos ou de ampla possibilidade de interpretação pelos usuários. Utilizar da luminosidade como possibilidade de conferir ao espaço proposto densidade, leveza, sombras, privacidade, etc.

[ Som ]
Investigar as qualidades sonoras a partir da compreensão dos princípios físicos de propagação das vibrações e dos ruídos provocados por vozes, aparelhos sonoros, veículos, efeitos naturais, etc.
[ Temperatura ]
Investigar as relações de calor entre os ambientes, a qualidade térmica possível de ser proporcionada utilizando-se recursos naturais, e a coerência na utilização dos recursos artificiais. Discutir como as sensações térmicas influenciam no comportamento dos usuários, tanto em situações práticas mais voltadas para ações funcionais quanto para situações de ordem simbólica ou sensorial de concentração, relaxamento, descanso, lazer.
[ Texturas ]
Investigar percepções de rugosidade, lisura, aspereza, brilho, unidade, aridez nos materiais e superfícies.
[ Adaptação ]
Estudar a capacidade de ajuste ou reorganização do espaço proposto em função de diferentes condições de uso, relacionando suas formas de acomodação dadas em função do mobiliário, divisões espaciais, resgatando os conceitos de `membrana`, `barreira’ e `contaminações’.
[ Imagens ]
Pensar sobre a interferência gráfica de imagens, grafites, banners, fotografias, transparências em contato com a arquitetura.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Contradição e Complexidade

“Porque me contradigo? Pois bem, me contradigo, sou vasto, contenho multidões” Walt Whitman
“Temos a arte para que a verdade não nos destrua” Friedrich Nietzsche

No projeto clássico e também no projeto moderno a tarefa do arquiteto consiste em ordenar. A finalidade da ordem clássica ou moderna é produzir um objeto que não seja contraditório. A não-contradição é um dos princípios lógicos do processo de conhecimento de Aristóteles, quais sejam: da identidade, da não contradição e do terceiro excluído,
* A lógica da matemática adota como regras fundamentais do pensamento os dois seguintes princípios (ou axiomas): princípio da não contradição : uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo./ princípio do terceiro excluído : toda proposição ou é verdadeira ou é falsa, verifica-se sempre um destes casos e nunca um terceiro.


Robert Venturi em seu livro Complexidade e contradição em arquitetura coloca:


"Me gusta la complejidad y la contradicción en arquitectura. Pero me desagrada la incoherencia y la arbitrariedad de la arquitectura incompetente y las complicaciones rebuscadas del pintoresquismo o el expresionismo. En su lugar, hablo de una arquitectura compleja y contradictoria basada en la riqueza y ambigüedad de la experiencia moderna, incluyendo la experiencia que es intrínseca al arte."


"Los arquitectos no pueden permitir que sean intimidados por el lenguaje puritano moral de la arquitectura moderna. Prefiero los elementos híbridos a los “puros”, los comprometidos a los “limpios”, los distorsionados a los “rectos”, los ambiguos a los “articulados”, los tergiversados que a la vez son “interesantes”, los convencionales a los “diseñados”, los integradores a los “excluyentes”, los redundantes a los sencillos, los reminiscentes que a la vez son innovadores, los irregulares y equívocos a los directos y claros. Defiendo la vitalidad confusa frente a la unidad transparente. Acepto la falta de lógica y proclamo la dualidad.
Defiendo la riqueza de significados en vez de la claridad de significados; la función implícita a la vez que la explícita. Prefiero “esto y lo otro” a “o esto o lo otro”, el blanco y el negro, y algunas veces el gris, al negro o al blanco. Una arquitectura válida evoca muchos niveles de significados y se centra en muchos puntos: su espacio y sus elementos se leen y funcionan de varias maneras a la vez.
Pero una arquitectura de la complejidad y la contradicción tiene que servir especialmente al conjunto; su verdad debe estar en su totalidad o en sus implicaciones. Debe incorporar la unidad difícil de la inclusión en vez de la unidad fácil de la exclusión. Más no es menos."


Neste sentido, Venturi expõe a contraposição entre simplicidade, clareza de leitura, a ênfase na não contradição arisótélica e de identidade. Postura clássica mantida na arquitetura moderna com suas fórmulas: "a forma segue a função", a estrutura evidenciando o cálculo e a verdade dos materiais.
Na arquitetura contemporânea ocorre a superação da ordem como controle estrito que se faz mais sutil, menos evidente; prescinde-se da geometria e de imposições visuais para se manter estados relacionais adequados. Aspira-se mais a sistemas baseados em controle aberto do que a ordens fechadas (Manuel Gausa).
A seguir busca-se a definição dos termos colocados, tais como contradição, complexidade e seus desdobramentos.

Contradição: Ato ou efeito de contradizer(-se). Dito, procedimento ou atitude oposta ao que se tinha dito, ou a que se adotara anteriormente; falta de nexo ou de lógica; incoerência, discrepância; oposição às opiniões, idéias e sentimentos de outrem; objeção, desacordo.
Contraposição: Antinomia, antinomismo, assimetria, contradição, contradita, contraste, desconformidade, desencontro, desequilíbrio, desigualdade, desproporção, desuniformidade, discordância, discrepância, disparidade, dissemelhança, divergência, diversidade, incoerência, incompatibilidade, inconformidade, incongruência, oposição, polarização; ver tb. sinonímia de desinteligência / discrepância entre pontos de vista; desacordo, desentendimento.
Antinomia: contradição entre quaisquer princípios ou doutrinas. Posição ou disposição totalmente contrária; oposição.
Complexo: Diz-se de ou conjunto, tomado como um todo mais ou menos coerente, cujos componentes funcionam entre si em numerosas relações de interdependência ou de subordinação, de apreensão muitas vezes difícil pelo intelecto e que apresentam diversos aspectos.
Simples: que não é composto, múltiplo ou desdobrado em partes; que é feito de um elemento básico, que não se compõe de partes ou substâncias diferentes; singelo; que evita ornamentos dispensáveis; desprovido de elementos acessórios; que é elementar, não apresentando qualquer embaraço para sua compreensão; isento de significações secundárias; mero, puro; que não é acompanhado ou auxiliado por outrem; só, único; que não é sofisticado; modesto, singelo; habitual, comum; sem luxo, sem ostentação; singelo, modesto; que é espontâneo, franco e ignora simulações ou fingimento.
Etimologia: do latim singelo, não composto, só, único, que só é dobrado uma vez, tendo tomado o sentido moral de não complicado. Do latim sim (o mesmo que figura em singular) mais plex (que se dobra).
Coerência: Qualidade, condição ou estado de coerente; ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas idéias; relação harmônica, conexão; congruência, harmonia de uma coisa com o fim a que se destina; uniformidade no proceder, igualdade de ânimo.
Bibliografia:
Dicionário Houaiss
Dicionário Metapolis da Arquitectura Contemporanea. Barcelona. Ed. Actar
Venturi, Robert. Complejidad y Contradicción en la Arquitectura. Barcelona. Ed. Gustavo Gili.

Vocabulário Crítico do livro "A Imagem"

.A Imagem de Eduardo Neiva Jr. Capítulo 7- pág. 82 à 85.


Designação/ Designativo: propriedade que os signos têm de se referirem ao exterior, para além de si mesmos, para processos e coisas do mundo, ou a estados mentais de quem os utiliza.

Frontalidade/ Frontal: mais do que uma simples organização do plano representativo, a frontalidade é um padrão de verdade. No telejornalismo o locutor encara a câmera; ele olha o nosso olhar.

Icônico/ Iconicidade: a iconicidade é uma qualidade comum ao representante como ao representado. È um tema polêmico da teoria dos signos. (Cf. Eco, Umberto. Teoria de semiótica geral. São Paulo, Perspectiva, 1980. p.169-90)

Iconologia: falar em iconologia é referir-se ao Warburg and Courtauld Institute, da Universidade de Londres, cujos principais expoentes são Saxl, Panofsky, Aby Warburg e Gombrich. A iconologia supõe que as imagens ilustram, na arte renascentista, textos históricos que são passiveis de desvelamento numa espécie de arqueologia. A função da iconologia, segundo Gombrich, não se prende à mera identificação do texto, sublinhando a representação visual; é preciso reconstruir todo o programa histórico que autoriza a imagem. “A iconologia deve começar com um estudo das instituições, ao invés de um estudo dos símbolos.”(Symbolic images. London, Phaidon, 1975. p. 21)

Maneirismo: tendência da pintura que recusa a proporção, o equilíbrio e a racionalidade dos primórdios do Renascimento. O mundo da aparência natural deixa de ser objeto da representação pictórica. O maneirismo tem o propósito de entregar-se à distorção das formas, trazendo para a experiência um outro mundo que lhe seja autônomo.

Perspectiva: a melhor observação sobre perspectiva é de Panofsky: “da mesma forma que foi impossível para a Idade Media elaborar o moderno sistema através de uma determinada distancia entre o olho e o objeto, capacitando o artista para evocar imagens compreensíveis e coerentes das coisas visíveis, igualmente foi impossível para eles alcançar a idéia moderna da Historia, que está fundada na compreensão de uma distância intelectual entre o presente e passado, permitindo ao investigador construir conceitos compreensivos e coerentes de períodos passados. (Estúdios sobre iconologia, p. 34.)

Referência/ Referente: os enunciados que emitimos supõem uma relação referencial com o exterior, ou seja, referências lingüísticas devem dirigir-se a uma realidade autônoma cujos componentes chamados de referentes. Essa é uma exigência fundamental – essencial mesmo- da expressão lingüística. Oswald Ducrot, no verbete referente, da Enciclopédia Einaudi, sugere que “desde que haja um ato de fala, um dizer, há uma orientação necessária para aquilo que não é dizer”. (Lisboa, Imprensa Nacional, 1984. p. 415. v. 2.) O referente tem um estatuto ambíguo, pois é exterior ao discurso e, entretanto, fica nele inscrito. A leitura do artigo de Ducrot é essencial para qualquer questão pertinente à lógica, lingüística, filosofia e teoria da imagem.

Repertório: “conjunto de signos que devem ser dispostos por um processo de eleição (seleção)”. BENSE, MAX & WALTER, Elizabeth, dir. La semiótica; guía alfabética. Barcelona, Anagrama, 1975. p. 132.) O repertório é uma unidade mais abrangente do que o signo.

Representação: processo de substituição que, através de signos, nos permite formar o ausente como presente. A representação é uma das condições para o significado.

Significado: seguindo um pressuposto mentalista, o lingüista Ferdinand de Saussure (1857-1913) definiu significado como conceito que está indissoluvelmente ligado à expressão material do signo, ou seja, a seu significante. Já para o filósofo Charles Sanders Peirce (1839-1914), o significado é produzido por meio de uma interpretação que traduz o primeiro signo em outro, chamado interpretante. O significado é uma operação sígnica, resultante de uma semiose, de um processo de cooperação triádica que envolve dois signos em relação de interpretação e um objeto que é por estes representado.

Signo: tudo aquilo que representa algo para alguém sob algum aspecto ou circunstancia. Exemplos: palavras, pessoas em funções públicas, imagens, manifestações atmosféricas etc., desde que preencham a função de representar.

Símbolo: um tipo de signo; um representante que está no lugar de algo, só que a eficácia da representação depende -no caso do símbolo- de um grau mais alto de convencionalidade, que é o elemento mais forte. Facilmente esquecemos que a cruz é um instrumento de tortura para compreendê-la como símbolo da cristandade. (pra quem se interessa em desvendar este tema, cf. PEIRCE, Charles Sanders. Ícone, índice, símbolo. In:-. Semiótica e filosofia. São Paulo, Cultrix, 1965.)

Verossimilhança/ Verossímil: Aristóteles define, na Retórica, o verossímil como aquilo que é capaz de persuadir, não por seu caráter lógico e argumentativo, mas pela força daquilo que a opinião pública considera como plausível e aproximado da verdade.