terça-feira, 9 de dezembro de 2008

CONCEITO 2

Conceito por André Sclafoni:

§ Deriva do latim conceptum e significa tanto pensamento e idéia quanto fruto ou feto.
§ É a reflexão sobre a própria existência e a construção de um artifício, palavra ou alimento, através do qual nos apropriamos, compreendemos e construímos o mundo, assim não emerge de uma tabula rasa ou em um plano a-histórico.
§ Juntamente com a memória o conceito constitui a matriz pré-compreensiva (compreensão dos estímulos).
§ O conceito não praticável ou de descrição não é caracterizado como um saber.
Linguagem e arquitetura: o problema do conceito, Prof. Dr. Carlos Antônio Leite Brandão

§ É o conjunto das operações mentais que procura a compreensão do conjunto de notas inteligíveis que representam o indivíduo ou grupo de indivíduos (extensão de um conceito - é o número de indivíduos abrangido por ele; compreensão de um conceito - é o resultado do número de notas inteligíveis de que consta o conceito.).
Amaro (1994)
§ É uma entidade psíquica abstrata e universal que serve para designar uma categoria ou classe de entidades, eventos ou relações.
§ É o elemento de uma proposição como uma palavra é o elemento de uma sentença. Conceitos são abstratos porque omitem as diferenças entre as coisas em sua extensão (semântica), tratando-as como se fossem idênticas e substantivas. Conceitos são universais ao se aplicarem igualmente a todas as coisas em sua extensão.
Wikipédia (www.wikipedia.org).

§ Ao definir o filósofo como “amigo do conceito”, admite-se que a tarefa da filosofia é necessariamente criativa:

O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos [...] Criar conceitos sempre novos, é o objeto da filosofia. É porque o conceito deve ser criado que ele remete ao filósofo como àquele que o tem em potência, ou que tem sua potência e sua competência [...] Que valeria um filósofo do qual se pudesse dizer: ele não criou um conceito, ele não criou seus conceitos?
(DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é a filosofia).

§ A filosofia tem uma ação criadora (de conceitos) e não é uma mera passividade frente ao mundo.
§ [...] conceito: não se trata de afirmar que é uma idéia (conceito) que funda a realidade; num sentido completamente outro, o conceito é imanente à realidade, brota dela e serve justamente para fazê-la compreensível. E, por isso, o conceito pode ser ferramenta, tanto de conservação quanto de transformação. O conceito é sempre uma intervenção no mundo, seja para conservá-lo, seja para mudá-lo.
§ [...] é próprio da filosofia criar conceitos que permitam a contemplação, a reflexão e a comunicação, sem os quais elas não poderiam existir, uma vez que contemplamos conceitos, refletimos sobre conceitos e comunicamos conceitos.
§ Todos os conhecimentos, isto é, todas as representações conscientemente referidas a um objeto, são ou intuições ou conceitos. A intuição é uma representação singular; o conceito, uma representação universal ou representação refletida.

§ “O conhecimento por conceitos chama-se pensar.”
(KANT, Manual dos cursos de Lógica Geral).

§ [...] todo conceito é necessariamente assinado; cada filósofo, ao criar um conceito, ressignifica um termo da língua com um sentido propriamente seu.
§ Todo conceito é uma multiplicidade, não há conceito simples. O conceito é formado por componentes e defne-se por eles; claro que totaliza seus componentes ao constituir-se, mas é sempre um todo fragmentado [...]
§ Todo conceito é criado a partir de problemas. Ou problemas novos ou problemas que o filósofo considera que foram mal-colocados [...]
§ Todo conceito tem uma história. Cada conceito remete a outros conceitos do mesmo filósofo e a conceitos de outros filósofos, que são tomados, assimilados, retrabalhados, recriados.
§ Todo conceito é uma heterogênese: “uma ordenação de seus componentes por zonas de vizinhança.” Ele é o ponto de coincidência, de condensação, de convergência de seus componentes que permitem uma significação singular, um mundo possível, em meio à multiplicidade de possibilidades.

§ Todo conceito é um incorporal, embora esteja sempre encarnado nos corpos. Não pode, entretanto, ser confundido com as coisas [...]
§ Um conceito é absoluto e relativo ao mesmo tempo. Relativo, pois remete a seus componentes e a outros conceitos; relativo aos problemas aos quais se dirige. No entanto, adquire ar de absoluto, pois condensa uma possibilidade de resposta ao problema.

§ O conceito não é discursivo, não é proposicional.

§ O conceito é um operador, algo que faz acontecer, que produz. O conceito não é uma opinião, o conceito é mais propriamente uma forma de reagir à opinião generalizada.

O conceito não é uma opinião, nem a opinião “verdadeira” dialeticamente formada nem a arqui-opinião de uma subjetividade universal constituinte: nem Doxa racional nem Ur-doxa transcendental. Antes é um operador muito preciso, muito específico, em si mesmo indiscutível, válido apenas pela fecundidade eventual de seus efeitos paradoxais, ou seja, por aquilo que, em domínios heterogêneos, ele faz pensar, ver e até sentir o que sem ele continuaria impensado, invisível, insensível, precisamente porque o que ele revela, o que só ele pode revelar, é por natureza incaptável no horizonte real-vivido das opiniões. Pragmatismo intrínseco da noção filosófica, do conceito-paradoxo. O conceito intervém, pois, reagindo sobre as opiniões, sobre os fluxos ordinários de idéias, criando “pregnâncias” inéditas, novas singularidades ou um novo sistema de pontos singulares, propondo uma redistribuição inesperada dos dados, uma reclassificação insólita e todavia “iluminadora” das coisas e dos seres, aproximando coisas que se supunha afastadas, afastando outras que se supunha próximas. Só a filosofia detém esta capacidade, esta força selvagem do conceito, mesmo se o exclusivo dessa função criativa não lhe outorga nenhum privilégio ou preeminência, visto haver outros modos de idear e de criar, como a ciência e a arte, que não passam pelo conceito.
(DIAS, Souza. Lógica do acontecimento - Deleuze e a Filosofa: Porto: Afrontamento, 1995, p. 32.).

§ [...] a produção de conceitos na filosofia dá-se por meio da imanência, enquanto que o conhecimento mítico-religioso opera pela transcendência – “o filósofo opera um vasto seqüestro da sabedoria, ele a põe a serviço da imanência pura” o trabalho filosófico dá-se pela delimitação de um plano de imanência, sobre o qual são gerados os conceitos.
§ [...] Cada filósofo cria “personagens”, à maneira de heterônimos, que são os sujeitos da criação conceitual. [...] Esses personagens conceituais “operam os movimentos que descrevem o plano de imanência do autor, e intervêm na própria criação de seus conceitos”.
§ A filosofia é então constituída por essas três instâncias correlacionais: o plano de imanência que ela precisa traçar, os personagens filosóficos que ela precisa inventar e os conceitos que deve criar.
§ E o conceito é esse dispositivo diferenciador, que faz multiplicar as relações, que faz proliferar os pensamentos, na mesma medida em que o levedo faz fermentar a cerveja.
§ Não há questão alguma de dificuldade nem de compreensão: os conceitos são exatamente como sons, cores ou imagens, são intensidades que lhes convêm ou não, que passam ou não passam. Pop’filosofia, não há nada a compreender, nada a interpretar.
(DELEUZE, Gilles et PARNET, Claire. Dialogues, op. cit., p. 10 (p. 12 na tradução brasileira).

§ A filosofia é, pois, um esforço de luta contra a opinião, que se generaliza e nos escraviza com suas respostas apressadas e soluções fáceis, todas tendendo ao mesmo; e luta contra a opinião criando conceitos, fazendo brotar acontecimentos, dando relevo para aquilo que em nosso cotidiano muitas vezes passa despercebido. A filosofia é um esforço criativo.

(Deleuze e a Educação Sílvio Gallo: Deleuze e a filosofia, cap. Rasgar o caos: a filosofia como criação de conceitos, Prof. Cézar Floriano.

Conceito na Arte e na Ciência:
§ A arte tradicional foi elaborada a partir de um paradigma relacionado à aparência das coisas e seus modos de representação e contemplação. A arte moderna baseou-se num paradigma centrado na auto-expressão do artista. Por sua vez a arte contemporânea baseia-se em constructos teóricos centrados em processos de criação, de transformação, de interação, de conexão, de ação e conceitos de justaposição, de multiplicidade, de aleatório, de equilíbrio dinâmico, de auto – organização, entre outros; ela visa à participação e o despertar de um novo tipo de consciência criativa e coletiva.
§ Autores como Kristine Stiles, Arthur Danto e Rosalind Krauss, entre outros, caracterizam a Arte Contemporânea como auto-referenciada. Ela parte de referências ao conjunto das obras de arte de um passado recente, juntamente com conceitos dialéticos situados na fronteira entre o ser e não ser, entre o concreto e o abstrato, entre o real e o virtual, entre o material e o imaterial.
§ ... a representação visual no período renascentista trouxe o conceito de espaço para o nível consciente. A partir desse período esse conceito passou a ser tomado como fonte de experiências sensoriais humanas perdendo, aos poucos, sua característica alegórica. Paulatinamente o espaço passou a ser organizado segundo as regras mensuráveis da percepção visual, regras estas que o descreviam matematicamente e tornavam próximas, sua representação e as sensações que o relacionavam com a realidade física.
§ Em 1926 Heisemberg percebeu, quando estudava a posição e velocidades de partículas em micro física, que havia um conflito conceitual nesse campo. Formulou então experimentos mentais, verificando ser impossível obter informações simultâneas sobre a posição e a velocidade das partículas elementares num instante conhecido. Essa verificação consistiu no princípio por ele denominado de "princípio de incerteza". Ao escrever que "por uma questão de princípio, não podemos conhecer o presente em todos os seus detalhes", Heisemberg rompeu com todo e qualquer determinismo clássico. Para lidar com os fenômenos com que trabalhava ele criou o conceito de "ondas de probabilidades", concebendo campos onde eventos probabilísticos se propagavam no espaço e no tempo, essas ondas são ondas conceituais a mostrar o aspecto espaço temporal do movimento dos elétrons.
Fundamentos da Arte Computacional nas Artes e nas Ciências, Tânia Fraga.


§ Das frases ou de um equivalente, a filosofia tira conceitos (que não se confundem com idéias gerais ou abstratas), enquanto que a ciência tira prospectos (proposições que não se confundem com juízos) e a arte tira perceptos e afectos (que também não se confundem com percepções e sentimentos). Em cada caso, a linguagem é submetida a provas e usos incomparáveis, mas que não definem a diferença entre as disciplinas, sem constituir também seus cruzamentos perpétuos. (DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é a filosofia).
Deleuze e a Educação Sílvio Gallo: Deleuze e a filosofia, Prof. Cézar Floriano.

Conceito na Arquitetura
§ Durante a produção de um projeto surge da reflexão sobre a nossa experiência dos espaços, seja ela mental ou experiência vivida.
§ Na exposição de um projeto arquitetônico e urbanístico o conceito apresenta-se como índice ou signo de uma idéia.
§ Não é a representação da realidade externa, mas a direção do caminho do projeto. Sendo a representação um momento em que o próprio conceito se formula.
Linguagem e arquitetura: o problema do conceito, Prof. Dr. Carlos Antônio Leite Brandão.

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