quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

“ESPAÇO”

“ESPAÇO” por Virginia Magliano Queiroz
Introdução
A palavra “espaço” possui inúmeras definições, e estudos ao seu respeito, está presente em diversas disciplinas, e apresenta muitas ramificações de significado. Definir um único conceito para essa palavra torna-se uma missão quase impossível, pois diversos autores, principalmente filósofos e geógrafos já tentaram essa façanha, sem sucesso. Cada qual com sua definição, seu conceito, e sua opinião sobre o “espaço”. Na tentativa de reunir os mais diversos conceitos, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em dicionários de disciplinas como astronomia, física e filosofia, dicionário etimológico, da língua portuguesa, e em livros de autores renomados da Geografia, Filosofia e Arquitetura, principalmente. O resultado dessa busca foi o glossário apresentado a seguir.
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa
Espaço: do latim [spặtiu.], campo de corridas, arena, pista; extensão, distância, espaço; lugar de passeio, praça pública; espaço; espaço, lapso de tempo; tempo, prazo; em métrica, tempo, medida.
Novo Dicionário Aurélio
Espaço. [Do lat. Spặtiu.] S. m. 1. Distância entre dois pontos, ou a área ou o volume entre limites determinados: O acidente com o pedestre resultou do estreito espaço da calçada:A casa foi construída num espaço pequeno. 2. Lugar mais ou menos bem delimitado, cuja área pode conter alguma coisa: Na casa há espaço para cinco pessoas; O artigo não desenvolve bem o tema por falta de espaço. 3. Extensão indefinida: Falava do passado com os olhos perdidos no espaço, como que revivendo-o. 4. A extensão onde existe o sistema solar, as estrelas, as galáxias; o Universo: As viagens pelo espaço são uma conquista do século XX. 5. Período ou intervalo de tempo: Falou durante o espaço de 20 minutos; Entre os dois fatos há um espaço de 10 anos. 6. Vagar, demora, delonga: A preparação da aula demanda maior espaço. 7. Mec. Trajetória descrita por um ponto em movimento. 8. Mus. Intervalo de uma linha a outra, na pauta musical. 9. Tip. Material branco empregado na separação das palavras de uma linha ou das letras de uma palavra. [V. quadratim.] 10. Tip. O claro que constitui a separação entre as palavras e, às vezes, também entre as letras de uma palavra. 11. Bras. Espácio [q. v.] # Adj. 12. Bras. Espácio [q. v.]
Ramificações:
Espaço Aéreo. 1. O que está sobreposto ao território dum Estado, que nele exerce direitos de soberania. 2. O que se sobrepõe ao terreno de alguém e por isso lhe pertence até onde lhe seja útil. 3. Astron. Região que inclui a atmosfera terrestre e o espaço exterior.
Espaço Arquitetônico. 1. Arquit. Aquele que é gerado e limitado pelos elementos arquitetônicos; e no qual se manifestam, para quem nele demora, as diferentes dimensões da forma arquitetônica (visual, táctil, auditiva, odorífica).
Outras ramificações : espaço cislunar; espaço cósmico; espaço de ar; espaço de fase; espaço de segurança; espaço exterior; espaço euclidiano; espaço extra-atmosférico; espaço inter-galáctico; espaço interestelar; espaço interno; espaço interplanetário; espaço lunar; espaço não-euclidiano; espaço n-dimensional; espaço no ar; espaço riemanniano; espaço superior; espaço translunar; espaço tridimensional; espaço-imagem; espaço-objeto.
Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais
Espaço: 1. Distância, área ou volume com fronteiras determinadas. 2. Lugar delimitado, cuja área pode conter alguma coisa; lugar. 3. Extensão indefinida ou infinita. 4. A extensão onde existe o sistema solar, as estrelas, as galáxias [UNIVERSO]. 5. O que se sobrepõe ao terreno de alguém e por isso lhe pertence até onde lhe seja útil. 6. Região que inclui a atmosfera terrestre e o espaço exterior.
Ramificações:
Espaço Euclidiano: Espaço das linhas retas, espaço riemanniano em que a curvatura é constante e igual a zero.
Espaço Intersticial: O que se situa entre a parede capilar sanguínea e a menbrana celular de um organismo.
Espaço de Atividade: Ecologia – Intervalo de condições ambientais adequadas para a atividade de um organismo.
Dicionário Cartográfico
Espaço: 1. A extensão onde se situa o sistema solar, as estrelas, etc.; o Universo. 2. Trajetória descrita por um ponto em movimento. 3. (Tipografia) Material usado na separação das letras e das palavras; o claro entre as letras e as palavras.
Ramificações:
Espaço Curvo: O espaço não convencional de Riemann, em que os caminhos mais curtos entre pontos são linhas curvas, os triângulos se deformam quando movimentados no espaço, e a soma dos seus ângulos, ao invés de ser sempre 180 graus, varia também, quando os triângulos se movimentam.
Espaço Translunar: O espaço visualizado da Terra, em qualquer momento, e que se acha além da órbita da Lua.
Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica
Espaço: 1. O mesmo que espaço exterior. 2. Meio onde acontecem os fenômenos perceptíveis e que pode ser descrito matematicamente através de um modelo que pertence a uma determinada geometria.
Ramificações:
Espaço Aéreo: Atmosfera entorno da Terra e o espaço acima dela, ambos considerados como um só domínio para as forças atuantes nos vôos de aeronaves e lançamento, dirigibilidade e controle de mísseis balísticos, satélites da Terra, veículos espaciais e semelhantes.
Espaço Externo: Região do espaço que exclui a Terra e sua atmosfera; espaço cósmico, espaço extra-atmosférico, espaço superior. Também se diz apenas ESPAÇO.
Espaço Lunar: Espaço próximo a Lua, e onde predomina a atração gravitacional deste satélite.
Dicionário de Física Ilustrado
Espaço: Conjunto contínuos de pontos que se podem caracterizar mediante coordenadas referidas a três eixos, fixos a um sistema físico determinado, e que constituem o referencial em que se descreve um fenômeno físico. Segundo as concepções newtonianas, o espaço, por sua própria natureza, era idêntico em todos os seus pontos e imutável, e independente de qualquer sistema de referência – era um espaço absoluto. (...) A Teoria da Relatividade modifica estas concepções, unificando os conceitos de espaço e de tempo no do contínuo espaço-tempo. Com esta unificação o espaço perdeu o seu caráter absoluto.
Ramificações:
Espaço-imagem: Óptico – Região do espaço que contém todos os raios luminosos, reais ou virtuais, que emergem dum sistema óptico.
Espaço-objeto: Óptico – Região do espaço que contém os raios luminosos, virtuais ou reais, que incidem e penetram no sistema óptico.
Platão
“O espaço é um dos três gêneros do ser. É eterno e não suscetível de destruição, constitui o habitáculo das coisas criadas, é apreendido por meio de uma razão espúria e mal é real. O espaço enquanto receptáculo puro, é um ‘contínuo’ sem qualidades. O espaço é um ‘habitáculo’ (uma morada) e nada mais; não se encontra nem na terra nem no céu (inteligível), de modo que não pode se dizer dele que ‘existe’.”
Aristóteles
“Espaço é concebido como ‘lugar’. As coisas são feitas de ‘espaço’, mas isto não significa que sejam – como em Descartes – modos de um contínuo espacial. O espaço ‘emana’ das coisas. Não é possível conceber as coisas sem seu espaço, o espaço não pode ser mero receptáculo vazio, pois ele é real, ocupado e transformado.”
Atomismo
“Conceberam o espaço como ‘o vazio’; o espaço não é uma coisa, pois unicamente os átomos são ‘coisas’. Mas, graças ao espaço, é possível conceber o momento; este último é deslocamento das “coisas” ou átomos através do ‘não ser’ ou ‘vazio’ espacial. Por isso Demócrito chamou ao espaço, indistintamente, ‘vazio’, ‘nada’ e ‘infinito’.”
Teofrasto
Propõe considerar o espaço não como uma realidade em si mesma, mas como “algo”definido mediante a posição e a ordem dos corpos.
Estratão de Lâmpsaco
Propõe considerar-se o espaço como uma realidade equivalente à totalidade do corpo cósmico. O espaço é “algo” completamente vazio, mas sempre preenchido com corpos.
Isaac Newton
“Espaço como um ‘absoluto’. E espaço absoluto, em sua própria natureza, sem relação com nenhuma coisa externa permanece similar e imóvel. O espaço relativo é uma dimensão movível ou medida dos espaços absolutos, que os nossos sentidos determinam mediante sua posição em relação aos corpos, e que é vulgarmente considerado como espaço imovível.”
Descartes
“O espaço é res extensa, cujas propriedades são a continuidade, a exterioridade (o ser partes extra partes), a reversibilidade, a tridimensionalidade, etc.”
Kant
“O espaço é, assim como o tempo, uma forma de intuição sensível, ou seja, uma forma a priori da sensibilidade. Não é ‘um conceito empírico derivado de experiências externas, porque a experiência externa só é possível pela representação do espaço’. É uma representação necessária a priori, que serve de fundamento para todas as intuições externas, porque é impossível conceber que não exista espaço, se bem que possamos pensá-lo sem que contenha objeto algum. O espaço é, em suma, a condição da possibilidade dos fenômenos, ou seja, uma representação a priori, fundamento necessário dos fenômenos. O espaço não é nenhum conceito discursivo, mas uma intuição pura e, finalmente, o espaço é representado como um quantum determinado. Na exposição transcendental demonstra-se, por sua vez, que o espaço não representa nenhuma propriedade das ‘coisas’, nada mais é do que a forma dos fenômenos dos sentidos externos, quer dizer, a única condição subjetiva da sensibilidade, mediante a qual se nos torna possível a intuição externa.”
“O espaço não é um conceito empírico, extraído de experiências externas. Efetivamente, para que determinadas sensações sejam relacionadas com algo exterior a mim (isto é, com algo situado num outro lugar do espaço, diferente daquele em que me encontro) e igualmente para que as possa representar como exteriores [e a par] umas das outras, por conseguinte não só distintas, mas em distintos lugares, requere-se já o fundamento da noção de espaço. Logo, a representação do espaço extraída pela experiência das relações dos fenômenos externos; pelo contrário, esta experiência externa só é possível, antes de mais nada, mediante essa representação.”
“Kant afirma que a noção de espaço é um pressuposto das representações externas.”
“Conclusão: a representação do espaço não pode ser extraída pela experiência.”
“O espaço é uma representação necessária, a priori, que fundamenta todas as intuições externas. Não se pode nunca ter uma representação de que não haja espaço, embora se possa perfeitamente pensar que não haja objetos alguns no espaço. Consideramos, por conseguinte, o espaço a condição de possibilidade dos fenômenos, não uma determinação que dependa deles; é uma representação a priori, que fundamenta necessariamente todos os fenômenos externos.”
“O espaço é representado como uma grandeza infinita dada. (...) a representação originária de espaço é intuição a priori e não conceito.”
Fichte
“Espaço aparece como algo posto pelo eu quando este põe o objeto como extenso.”
Física de Minkowski, a teoria da relatividade, a mecânica ondulatória de Schödinger
“Introduz-se a noção de Espaço-Tempo como um contínuo. Einstein unificara espaço e tempo, matéria e gravitação na teoria da relatividade.”
Bohr
“Indica que as concepções usuais do espaço (e do tempo) são inadequadas para descrever processos microfísicos.”
Heidegger
“A noção de espaço é ‘pré-científica’. Deve-se entender a espacialidade a partir da própria existência, como portadora das características de ‘dês-afastamento’ e direcionalidade.”
Considera espaço e lugar como sinônimos. Entretanto, deixa claro que o espaço é usado para posição das coisas da mesma forma como é concebida pela física. Dessa maneira, para Heidegger, espaço é espacialidade, esta uma unidade maior e mais complexa que a outra.
Hegel
“Espaço é uma fase, um ‘momento’ no desenvolvimento dialético da Idéia, a pureza exterioridade desta. O espaço apresenta-se como a generalidade abstrata do ser fora-de-si da Natureza.”
“Nos tempo de Hegel, espaço (Raum) e tempo (Zeit) eram usualmente tratados em conjunto. Quatro concepções tinha ampla circulação:
- Espaço e tempo são coisas distintas, nos quais outras coisas estão contidas. Concepção associada a Newton.
- Espaço e tempo são atributos de coisas, um ponto de vista próximo ao de Aristóteles.
- Espaço e tempo são relações entre coisas. Noção iniciada por Leibniz.
- Espaço e tempo são ‘formas de nossa sensibilidade’ e, assim, ‘transcendentalmente ideais’: as impomos às nossas intuições. Somente fenômenos, não ‘coisas-em-si’, estão no espaço e no tempo. Concepção de Kant.”
“Hegel considera que o espaço e o tempo são assuntos que interessam não à lógica, mas à filosofia da natureza e trata-os em suas conferências de Iena sobre a filosofia da natureza. (...) Vê o espaço e o tempo não como formas de sensibilidade, distintas dos conceitos do entendimento, mas como as manifestações mais fundamentais do concreto na natureza. Tenta, assim, uma derivação conceptual de espaço e tempo, e de suas principais características, por exemplo, as três dimensões de espaço e de tempo (passado, presente e futuro). Sustenta que espaço e tempo se envolvem mutuamente.”
Em sua concepção, inspirado na antiguidade clássica, espaço toma conotação de receptáculo de coisas materiais, onde as formas e as idéias têm lugar, segundo o pensamento aristotélico.
Milton Santos
- “Por uma arquitetura nova”
Espaço como objeto principal de estudo da geografia.
“Assim como Santo Agostinho disse do tempo: “Se me perguntam se sei o que é, respondo que sim; mas, se me pedem para defini-lo, respondo que não sei”; o mesmo pode ser dito do espaço.”
“A noção de espaço cobre uma variedade tão ampla de objetos e significações – os utensílios comuns à vida doméstica, como um cinzeiro, um bule, são espaço; uma casa é espaço, como uma cidade também o é. Há o espaço de uma nação – sinônimo de território, de Estado; há o espaço terrestre, da velha definição da geografia, como crosta do nosso planeta; e há igualmente, o espaço extraterrestre, recentemente conquistado pelo homem, e, até mesmo o espaço sideral, parcialmente um mistério.”
“O espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual.”
- “Pensando o espaço do homem”
“... o espaço é a acumulação desigual de tempos.”
“O espaço é, pois, o lugar das relações de produção, no entanto ele não é apenas um efeito destas relações [...] Ele contribui para produzir, reproduzir, transformar os modos de produção. Ele é, pois, uma dimensão ativa do devenir das sociedades.” (Paul Vieille)
- “A natureza do espaço”
“O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá.”
“O espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e a seus habitantes.”
“O espaço é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza, mais a vida que as anima.”
“O espaço é um sistema de valores, que se transforma permanentemente.”
“O espaço, uno e múltiplo, por suas diversas parcelas, e através do seu uso, é um conjunto de mercadorias, cujo valor individual é função do valor que a sociedade, em um dado momento, atribui a cada pedaço de matéria, isto é, cada fração da paisagem.”
“O espaço é a sociedade.”
Miriam Gurgel
Define em seu livro apenas o espaço habitável, espaço de que trata no mesmo.
“Espaço habitável – espaço compreendido entre as paredes, o teto e o piso de um ambiente ou de uma casa. É o local onde moramos, desenvolvemos várias atividades, enfim, vivemos. Elemento essencial da arquitetura de interiores, é o ponto de partida da criação, sem ele não há projeto. São inúmeros os modos de articular o espaço física, visual e até mesmo sonoramente. Segundo nosso interesse, se soubermos escolher corretamente os elementos compositivos, poderemos estimular diferentes sensações, como a de aberto/fechado, livre/enclausurado, seguro/vulnerável, entre tantas outras.”
Francis D. K. Ching
“O espaço engloba constantemente nosso ser. Através do volume do espaço nos movemos, percebemos formas, ouvimos sons, sentimos brisas, cheiramos as fragrâncias de um jardim em flor. É uma substância material como a madeira ou a pedra. Ainda assim, constitui uma emanação inerentemente informe. Sua forma visual, suas dimensões e escala, a qualidade de sua luz – todas essas qualidades dependem de nossa percepção dos limites espaciais definidos pelos elementos da forma. À medida que o espaço começa a ser capturado, encerrado, moldado e organizado pelos elementos da massa, a arquitetura começa a existir.”
Bruno Zevi
“O espaço interior, o espaço que não pode ser representado perfeitamente de forma alguma, que não pode ser conhecido e vivido a não ser por experiência direta, é o protagonista d fato arquitetônico.”
Espaço é a realidade em que a arquitetura se concretiza.
Espaço é o vácuo arquitetônico, sinônimo do vazio.
“O espaço arquitetônico não é definível nos termos das dimensões da pintura e da escultura.”
Espaço interior é aquele definido perfeitamente pela obra arquitetônica
Espaço exterior/urbanístico é aquele definido pelo conjunto de obras arquitetônicas, constituído por pontes, obeliscos, fontes, arcos de triunfo, grupos de árvores, e particularmente as fachadas dos edifícios.
Espaço interior é o espaço que nos rodeia e nos inclui, que dá o lá no juízo sobre um edifício, que constitui o “sim” ou o “não” de todas as sentenças estéticas sobre a arquitetura.
Geoffrey Scott
“O espaço é um ‘nada’ – uma pura negação do que é sólido – e por isso ignoramo-lo. Mas ainda que possamos ignorá-lo, o espaço age sobre nós e pode dominar o nosso espírito; uma grande parte do prazer que recebemos da arquitetura – prazer de que parece não podemos aperceber-nos ou que não nos damos ao trabalho de notar – surge, na realidade, do espaço.”
“Delimitar o espaço é o objetivo de construir – quando construímos, não fazemos mais do que destacar uma quantidade de espaço conveniente fechando-o e protegendo-o – e toda a arquitetura surge dessa necessidade.”
Giulio Argan
Até o início dos anos 600 a arquitetura é pensada como representação do espaço, à medida que se avança no tempo se coloca como determinação do espaço. O arquiteto dos anos 500 ou de princípio dos anos 600 considera que existe fora de si mesmo, uma realidade objetiva ainda que seja através de interpretações que podem ser formalmente muito distintas. Enquanto que nos anos 600 começa a aceitar-se uma idéia de que o arquiteto não representa um espaço, uma realidade que existe fora dele, mas que esta realidade vai se determinando através das próprias formas arquitetônicas. Já não se trata mais do arquiteto que representa o espaço, mas do arquiteto que faz o espaço.
O arquiteto que se propõe a representar o espaço utiliza certos elementos formais que tem a sua disposição e que compõem em seu edifício. O arquiteto que pretende fazer ou determinar o espaço não pode aceitar as formas arquitetônicas pré-estabelecidas, cada uma das quais terá um valor de determinação pré-estabelecido; terá que inventar sucessivamente suas próprias formas.
A arquitetura de composição, parte da idéia de um espaço constante com leis bem definidas, ou seja, de um espaço objetivo; a arquitetura de determinação formal crê ser ela mesma a determinante do espaço, ou seja, que afasta a priori de um espaço objetivo.
A posição do homem do sistema é uma posição contemplativa e a posição do homem do fazer ou do homem do método é uma posição ativa. Para o homem do sistema, para o homem contemplativo, o espaço é um dado revelado.
Se parto do princípio de que a experiência é o que conta, ocorrerá que o meu existir na realidade poderá se constituir na determinação contínua de um espaço. O espaço que percorro, o espaço no qual me movimento, o espaço que efetivamente vejo, tudo isto me interessa. E se no primeiro caso tenho uma constância de valor de espaço, no segundo há uma transformação constante dos valores do espaço, uma transformação que está ligada à atividade – minha atividade, a atividade dos demais, a atividade do grupo social ao qual pertenço. -. Esta é a passagem de uma concepção sistemática para uma concepção metodológica. A passagem de uma posição contemplativa para uma posição ativa será também a passagem de uma concepção metafísica a uma concepção social do espaço.


Referências Bibliográficas
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OLIVEIRA, Cêurio de. Dicionário Cartográfico. Rio de Janeiro: Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 1993. 645p.
MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. 961p.
MACEDO, Horácio. Dicionário de Física Ilustrado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976. 367p.
MACHADO, José Pedro. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editorial Confluência - Publicação em fascículos iniciada em novembro de 1952. 1248p.
SANTOS, Douglas. A reinvenção do espaço: diálogos em torno da construção do significado de uma categoria. São Paulo: Ed.UNESP, 2002. 217p.
MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 741p.
INWOOD, Michel. Dicionário Hegel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. 362p.
GURGEL, Miriam. Projetando espaços: Guia de arquitetura de interiores para áreas residenciais. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2005. 301p.
ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1978. 219p.
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